sexta-feira, outubro 16, 2015

O clube, de Pablo Larrain ***

Há filmes em que os conceitos de suas respectivas concepções artísticas são bem mais interessantes do que os resultados finais. Esse é o caso da produção chilena “O clube” (2015). Dá para perceber durante a projeção da obra que as ideias do diretor Pablo Larrian são ousadas e repletas de boas sacadas. Através do microverso de uma casa localizada numa melancólica cidadezinha no interior do Chile, onde residem padres afastados pelas igreja católica por diversas razões (pedofilia, corrupção, ligações obscuras com o poder político), a trama faz uma espécie de inventário dos podres morais tanto da religião oficial quanto da própria sociedade chilena. Para isso, Larrain se utiliza de uma abordagem formal e emocional dúbia e por vezes até distanciada, com o filme alternando sua atmosfera de forma irônica entre o melodramático e o francamente sórdido (nesse sentido, alguns diálogos do filme são engraçados e perturbadores no seu misto de escrotidão e hipocrisia), além da fotografia buscar uma ambientação gótica que se revela um sintonia existencial com o conteúdo de seu roteiro. Tais recursos estéticos e textuais de “O clube” garantem uma narrativa envolvente e que sabe criar um desconforto para o espectador. No geral, entretanto, falta para Larrain uma certa centelha criativa que faça com que o seu filme consiga transcender em uma experiência efetivamente memorável. No clímax da narrativa, a noite em que os padres e a religiosa que os auxilia conspiram para que os habitantes da cidade linchem um pobre coitado que os atormenta, por exemplo, Larrain realiza uma composição cênica óbvia e um tanto desajeitada – o que era para ser o grande momento de tensão dramática da produção acaba tendo uma resolução banal. O tom conciliatório da conclusão da história também mostra um lado conformado e conservador que atenta contra a diatribe social e política que até então era a tônica da obra. Apesar de tais aspectos frustrantes, “O clube” ainda mantém um grau de interesse acima da média e que deixa algo inquietante martelando no inconsciente da plateia.

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