quinta-feira, outubro 22, 2015

Um amor a cada esquina, de Peter Bogdanovich ***1/2

O diretor Peter Bogdanovich sempre nutriu uma grande paixão pelo cinema clássico norte-americano da primeira metade do século XX. Antes de se tornar cineasta, dedicou matérias e ensaios sobre filmes e diretores que admirava. Mesmo seus próprios filmes refletem esse seu amor por tais filmografias e artistas, deixando isso claro em termos de estéticas, influências, citações e referências. Após um longo período sem aparecer com alguma nova produção nas telas, Bogdanovich retoma com a mesma pegada reverencial e algo nostálgica em “Um amor a cada esquina” (2013). Nesse trabalho, talvez o nome que mais venha à mente seja o de Howard Hawks, principalmente com aquelas comédias amalucadas cheia de quiproquós como “Levada da Breca” (1938) e “Jejum de amor” (1940), além de alguns diálogos espirituosos evocarem o encanto das produções cômicas de Ernest Lubitsch (aliás, um de seus filmes, “Cluny Brown”, é citado diretamente no roteiro). O fascinante no formato narrativo concebido por Bogdanovich é que tudo pode parecer um tanto aleatório e pueril, mas na verdade tem por trás uma encenação bastante meticulosa tanto no desenvolvimento das situações do roteiro quanto nos relacionamentos que se estabelecem entre os personagens, contando ainda com uma azeitada direção de atores (Jennifer Aniston tem aqui a sua mais convincente atuação no cinema e Imogem Poots com seu misto de doçura e ironia faz lembrar mitos como Audrey Hepburn e Claudette Colbert). Tais truques formais e temáticos podem até soar a princípio anacrônicos, mas aos poucos vão conferindo ao filme uma atmosfera atemporal e de irrealidade sedutora (vide as hilárias coincidências que permeiam toda a trama).

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