segunda-feira, janeiro 18, 2016

Spotlight - Segredos revelados, de Tom McCarthy ***1/2

Em um primeiro plano, a trama de “Spotlight – Segredos revelados” (2015) teria como temática principal a questão da pedofilia dentro da igreja católica. Ocorre, entretanto, que o subtexto do roteiro em questão é tão sofisticado que aos poucos se pode perceber que o alcance da história é ainda mais amplo. A narrativa construída pelo diretor Tom McCarthy é marcada pela sutileza e detalhismo em vários aspectos, principalmente na elegância da encenação e nos sinuosos e irônicos diálogos, além de um certo distanciamento emocional que evita que o filme caia no edificante meloso ou no denuncismo vazio. Na verdade, trata-se até de uma obra que se permite algumas ousadias artísticas e políticas, pois o que entra em pauta de forma efetiva é uma crítica ácida contra as estruturas de poder dentro da sociedade ocidental. Todo o processo de jornalismo investigativo no quais os principais personagens se dedicam é esmiuçado com profundidade e rigor, fazendo até lembrar clássicos do gênero como “Todos os homens do presidente” (1976), mas se pode perceber que quando tal processo toma início há obstáculos que com até certa facilidade são transpostos. O que a história mostra como grande dilema é a dificuldade em dar o primeiro passo, o de decidir abrir tal investigação, em que o imobilismo é estimulado por um conjunto de instituições (igreja, polícia, justiça, imprensa) mais dedicado a preservar o status quo do que em proteger os direitos dos indivíduos. Nesse sentido, a figura do jornalista Walter Robinson (Michael Keaton) é notável como síntese dos conflitos e contradições que marcam a trama – responsável como chefe do grupo de jornalistas investigativos, aos poucos descobre que alguns dos principais envolvidos na tramoia de ocultamento de casos de pedofilias praticados por padres são pessoas com as quais mantém um constante convívio social em seu cotidiano, percebendo também que por um bom tempo, ainda que de forma inconsciente, ele mesmo foi responsável por tal situação. São em nuances como essa que “Spotlight” se mostra uma produção acima da média e surpreendente, evitando a solução fácil de maniqueísmos pueris ou mesmo o viés hipócrita e conciliatório.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Uma boa surpresa dessa temporada de filmes prè-Oscar.