sexta-feira, julho 15, 2016

Que viva Eisenstein!, de Peter Greenaway ****

Com o passar dos anos, o diretor britânico Peter Greenaway se mostra cada vez mais insatisfeito com os rumos contemporâneos da linguagem cinematográfica. Isso fica evidente tanto em suas declarações como nos seus filmes. Nesse último caso, “Que viva Eisenstein!” (2015) é um atestado enfático de suas inquietações artísticas. Para começar, Greenaway usa como protagonista aquele cineasta que talvez seja o nome-chave na consolidação do cinema como expressão artística própria – o russo Sergei Eisenstein, que em obras-primas como “O encouraçado Potemkin” (1925) e “Outubro” (1928) estabeleceu um estilo de filmagem e edição que se tornou referência fundamental para a narrativa e a estética cinematográficas. O foco principal do roteiro se concentra no período em que Eisenstein esteve no México para realizar “Que viva México!”, obra que resultou inacabada. Só que o fato de usar figuras e situações “reais” não significa necessariamente que Greenaway tenha se vinculados aos moldes convencionais de uma cinebiografia. Na verdade, o diretor usa a perspectiva histórica como um elemento a mais dentro de uma concepção de cinema que se interliga com outros meios culturais (teatro, pintura, literatura, antropologia, tecnologia). Essa concepção multimídia do que seria um filme recebe um trato formal que prima pela coerência e o rigor sem que se perca o seu caráter libertário artístico. Greenaway não se limita apenas a reproduzir fatos históricos. O que ele faz é jogar o espectador dentro da mente fervilhante de criatividade e ávida por experiências e conhecimento de Eisenstein. Para isso, emula o estilo de montagem característico do seu biografado, intercala com trechos documentais e de sequências de alguns dos trabalhos mais célebres de Eisenstein e conecta tudo com a encenação virtuosa e repleta de nuances simbólicas que são típicas do próprio Greenaway. Esse choque de truques e recursos diversos resulta em um mosaico narrativo erudito e fascinante, que relaciona de maneira intrínseca arte, política, história, poder e sexo.

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