A cena de abertura de “9 mm.” (2008) é seca e objetiva: no corredor de um prédio, a câmera focaliza uma porta de apartamento e um tiro é ouvido. A partir desse instante, a trama do filme retroage algumas horas e daí os motivos que levaram ao disparo da arma aos poucos serão esclarecidos. Essa descrição da narrativa dessa produção belga pode levar a crer que a mesma se trata de um filme policial. E é justamente aí que está um dos grandes méritos do filme: o que se assiste é um drama sobre a desintegração de uma família formatado numa estrutura de filme policial. Não há como não lembrar da declaração de Truffaut sobre Hitchcock em que ele dizia que o velho mestre inglês dirigia histórias de amor como filmes de suspense ou realizava produções de suspense como filmes de amor. O diretor estreante Taylan Barman surpreende ao conduzir sua trama com uma dinâmica tensa e meticulosa. Sua câmera é investigativa, parecendo não querer perder nenhum detalhe da trajetória descendente de seus personagens. Na maior parte dos momentos, pai, mãe e filho são apresentados em ações isoladas, mas que refletem sutilmente a relação desestabilizada entre eles. Quando interagem, a naturalidade dos seus atos é brutalmente coerente, fazendo da tragédia anunciada no início do filme a conseqüência inevitável de uma convivência degradada.
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