terça-feira, dezembro 23, 2014

Ultraje: Muito além, de Takeshi Kitano ***1/2


Takeshi Kitano fazendo continuação de um de seus filmes não é algo exatamente habitual. Ainda mais de “Ultraje” (2010), um de seus melhores trabalhos. “Ultraje: Muito além” (2010), a segunda parte da saga dos mafiosos nipônicos, não tem a mesma intensidade formal da primeira produção, mas mesmo assim é uma obra de peso que se coloca muito acima da média do que se faz no cinema policial contemporâneo. Kitano se utiliza novamente de um roteiro de variações mínimas, cujo mote principal está nas disputas brutais e insidiosas entre clãs de criminosos. A força de suas concepções artísticas está na construção de atmosferas secas e desoladas, na violência descarnada de algumas seqüências, no extraordinário trabalho de composição cênica, na estranha ironia tipicamente nipônica de Kitano. Tudo parece previsível na trama, mas mesmo assim o espectador se sente surpreendido e atraído pelas noções perversas e trágicas que escorrem de forma abundante da narrativa sangrenta engedrada pelo cineasta. E a surpreendente conclusão do filme acentua a sensação de desconcerto, quando num único ato brutal emana uma inesperada aura de conto moral.

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