quarta-feira, setembro 09, 2015

Que horas ela volta?, de Anna Muylaert ***

Não há como escrever sobre “Que horas ela volta?” (2015) sem falar sobre a atual conjuntura política e social que certa a obra. A pretensão desse texto não é fazer uma análise sociológica e nem tentar simplifica questões complexas, mas a verdade é que a grande maioria da sociedade brasileira tem uma imensa dificuldade em discutir sobre temas espinhosos como conflito de classes e preconceito social. Quando debates e mesmo obras culturais versam sobre tais assuntos, geralmente, o direcionamento é de negar ou minimizar a gravidade de tais situações. Diante desse quadro, acaba sendo compreensível o impacto artístico e cultural que o filme de Anna Muylaert tem causado. Ainda que a produção se formate segundo as regras de um melodrama convencional e por vezes caia em soluções fáceis e conciliatórias para os dilemas que o seu roteiro aborda (ou mesmo excessivamente caricaturais, como a caracterização caricata da mãe pequeno burguesa), é inegável que Muylaert cria uma narrativa envolvente e por vezes perpassada por um senso de humor bastante afiado e perturbador (a sequência em que o pai de família pede a filha da doméstica em casamento é antológica pelo alto grau de ácido sarcasmo). Além disso, “Que horas ela volta?” traz alguns fortes trunfos como a bela trilha sonora composta e executada por Fábio Trummer (líder da ótima banda pernambucana Eddie) e o elenco que apresenta atuações luminosas de Camila Márdila e Lourenço Mutarelli – esse último com uma excêntrica composição dramática que lembra o trabalho de Jean-Claude Bernardet em “Periscópio” (2012)

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Lourenço Mutarelli estava show naquela cena da declaração.Enfim um dos melhores filmes do ano e espero que o público em geral reconheça isso.