quinta-feira, setembro 10, 2015

Sobre amigos, amor e vinho, de Eric Lavaine *1/2

Quando Jean-Luc Godard, François Truffaut, Eric Rohmer, Jacques Rivette e companhia começaram a despontar tanto como críticos da Cahiers du Cinema como diretores na Nouvelle Vague, em meados da década de 50, tal movimento de talentos e ideias também representava uma reação contra o “cinema francês de qualidade”. Em linhas gerais, tal designação se referia a um tipo de filme que era formalmente competente na sua realização e agradável de ver, mas que era nulo em termos criativos e de conteúdo, servindo apenas para satisfazer um público médio pouco exigente. Passadas algumas décadas, parece que o cinema da França se encontra em um beco sem saída estético semelhante àquele. Uma obra como “Sobre amigos, amor e vinho” (2014) acaba sendo bem emblemática dessa situação. Em sua premissa principal, o roteiro até busca um certo questionamento existencial e social pertinente: a do pequeno burguês cinquentão (Lambert Wilson) que após um ataque cardíaco passa a questionar suas relações com a família, amigos e o mundo em geral. Tal viés crítico, entretanto, acaba bastante atenuado ao receber um tratamento formal asséptico e despersonalizado. Fotografia e edição parecem emular um vídeo institucional turístico de Lyon e das idílicas paisagens interioranas francesas. Os próprios conflitos e dilemas da trama passam por um filtro moralizante e conformista, o que aliado à caracterização caricatural e simplória de personagens e situações retira qualquer possibilidade de uma densidade dramática mais consistente para o filme. Assumindo com orgulho o manto do “cinema francês de qualidade”, “Sobre amigos, amor e vinho” está mais para um besteirol envergonhado do que para um pretenso retrato de geração.

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