sexta-feira, agosto 25, 2017

Os campos voltarão, de Ermanno Olmi ***1/2

O diretor italiano Ermanno Olmi atinge um feito memorável na produção “Os campos voltarão” (2014) ao obter uma síntese insólita e pungente entre poesia e brutalidade. O retrato que oferece de uma frente de batalha na I Guerra Mundial em um primeiro momento impressiona pela sua crueza realista em termos de recriação imagética – fotografia e direção de arte valorizam uma composição visual marcada pela sujeira e por uma atmosfera sombria, ainda que por vezes faça um contraste perturbador com a beleza das paisagens interioranas onde o conflito se desenvolve. Aliás, esse pendor para ressaltar nuances de um ambiente agrário remete diretamente ao grande clássico da filmografia de Olmi, “A árvore dos tamancos” (1978), de onde também se assemelha em um certo teor de beatitude de algumas passagens do roteiro. Nesse ponto, reside o grande ponto de transcendência artística do filme, onde a perspectiva principal da narrativa se encontra na rotina melancólica e desesperada de um grupo de soldados italianos em uma trincheira violentamente acossada pelos inimigos germânicos. A obra capta com sensibilidade detalhes existenciais contundentes, como a resignação fatalista de soldados e praças oriundos das camadas mais pobres da sociedade até a alienação e perplexidade de seus oficiais. Olmi consegue conciliar com maestria essa profunda abordagem intimista a uma dinâmica de ação típica do gênero filme de guerra. Nesse sentido, os ataques finais dos morteiros alemães impressionam pelo sensorialismo devastador de sua encenação.

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