terça-feira, agosto 15, 2017

Monsieur & madame Adelman, de Nicolas Bedos **1/2

É difícil não lembrar de “Cenas de um casamento” (1973) ao se assistir a “Monsieur & Madame Adelman” (2017). Em ambos os filmes, roteiro e estrutura narrativa se baseiam na exposição dos fatos mais relevantes e emblemáticos na história de um casamento, passando por uma gama considerável de situações, sentimentos e sensações inerentes a esse tipo de relacionamento amoroso. Nas duas obras há também o desejo de se afastar das idealizações romantizadas que geralmente produções no gênero costumam cair, com enfoques, dessa maneira, que buscam uma certa crueza realista em sua abordagem artística-existencial. Outro ponto em comum é que nas produções mencionadas há o questionamento do papel da mulher dentro do matrimônio diante de um contexto sócio-cultural ocidental que ainda guarda fortes traços machistas e patriarcais. Feitas essas aproximações, cabe deixar uma coisa bem clara – por mais que se simpatize com algumas escolhas criativas da produção francesa dirigida por Nicolas Bedos, ela ainda se encontra a milhas de distância da obra-prima concebida por Ingmar Bergman. Algumas passagens do roteiro até surpreendem pela sua síntese de ironia divertida e nuances dramáticas inquietantes, mas a encenação por vezes previsível, o didatismo primário na caracterização do ambiente histórico e a queda excessiva para o convencionalismo formal atenuam muito o impacto sensorial de “Monsieur & madame Adelman”, ao contrário do rigor estético e da cruel (e muito humana) dissecação filosófica-emocional de um casamento arquitetados no perturbador filme de Bergman.

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