segunda-feira, janeiro 15, 2007

Feliz Natal, de Christian Carion **1/2

No clássico drama de guerra “A Grande Ilusão” (1937), uma das maiores obras primas do mestre Jean Renoir, havia um momento na trama em que ocorre uma espécie de confraternização entre os exércitos combatentes. Apesar dessa insólita manifestação, não perdíamos a consciência de que aqueles homens também estavam prontos para matar os seus inimigos quando necessário. Essa dualidade aumentava ainda mais a dimensão humana do filme, ao mostrar a imensa gama de sentimentos que envolve um conflito bélico. Renoir também colocava em pauta a distinção entre as classes oficiais/aristocráticas e soldados/povo, mostrando como tal divisão impregnava a cultura ocidental a ponto de não ser esquecida em pleno combate.

“Feliz Natal”, produção européia de 2005, evoca as questões abordas por Renoir em “A Grande Ilusão”, procurando explicitar ainda mais o que na obra de Renoir era mais insinuado. Mesmo assim, o cineasta Christian Carion acaba deixando muito a desejar na sua visão. A concepção das situações e dos personagens é simplória e rasa demais. Não há a natureza contraditória e ambígua da obra prima de Renoir: tudo é certinho e unidimensional em demasia.

No final das contas, “Feliz Natal” não chega a ser ruim. Há belos planos dos campos de batalhas, além de alguns momentos divertidos durante a confraternização entre alemães, franceses e escoceses. A forma como as músicas típicas dos países são utilizadas como forma de aproximação entre os inimigos também é um sopro de criatividade e frescor na narrativa. Mas isso tudo é insuficiente para tirar a impressão de frustração ao final do filme.

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