segunda-feira, março 05, 2007

Bom Dia, de Yasujiro Ozu ****

Yasujiro Ozu sempre teve uma “fórmula” bem simples para os seus filmes: temática familiar, situações quotidianas no seu roteiro, uma câmera que pouco se move e sempre no nível do chão. O que parece um simples comodismo na verdade revela um artista de visão altamente original. No início das tramas de suas produções, tudo parece corriqueiro, quase banal mesmo. À medida, entretanto, que a narrativa vai se desenvolvendo, vamos ficando cada vez mais envolvidos, efetivamente interessados com o destino dos seus personagens. Por mais estranho que pareça, é como se os tais fatos banais adquirissem até mesmo uma certa proporção épica.

Tudo isso que mencionei acima está também em “Bom Dia”, uma das melhores produções da carreira de Ozu. A ingênua luta dos dois irmãos para convencerem o seu pai a comprar uma televisão é conduzida com uma leveza admirável, ao mesmo tempo que podemos sentir que para os garotos tal questão tem uma dimensão grandiosa para as suas vidas. Nesse sentido, “Bom Dia” se revela como uma das transposições mais verdadeiras para as telas do que é o universo infantil. Além disso, também é fascinante como a partir de uma premissa tão simples Ozu consiga desvelar muito da cultura e dos conflitos da sociedade japonesa, principalmente no que diz respeito ao apego às tradições e os preconceitos morais da mesma.

Para quem não conhece a obra de Yasujiro Ozu, “Bom Dia” é uma das melhores formar a ter contato com o universo desse cineasta, tanto pelas suas qualidades cinematográficas quanto pela sua acessibilidade temática e estilística.

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