quinta-feira, abril 19, 2007

Apenas Um Beijo, de Ken Loach ****


O comentário mais comum que aparece quando o nome do cineasta britânico Ken Loach vem à tona é o fato do mesmo colocar nos seus filmes temas de conteúdo social. É claro que isso é verdade, mas reduzir o referido diretor para apenas esse aspecto é injustamente reducionista. Afinal, Loach é um artista com um domínio impressionante da linguagem cinematográfica. Por mais espinhosos e crus que as temáticas dos seus filmes possam parecer, na grande maioria de tais produções sempre predomina uma narrativa ágil e repleta de momentos impactantes, tanto pela tensão de algumas seqüências quanto pelo humanismo e ternura de outras cenas.

Todo esse universo particular cinematográfico de Ken Loach está presente em “Apenas Um Beijo”, com o cineasta provando que sempre é capaz de surpreender o espectador. Isso fica perfeitamente evidente na abordagem franca e libertária que Loach tem sobre uma das premissas mais batidas na história do cinema: o amor “proibido” de um casal de namorados. No caso do filme, cuja trama se passa em Glasgow, a relação amorosa entre o muçulmano Casim (Atta Yaqub) e Roisin (Eva Bisthistle) é repudiada tanto pela família do rapaz quanto por parte do círculo de amizades e profissional da garota. O que impressiona na visão de Ken Loach, entretanto, é que o mesmo desconsidera a tradicional concepção “Romeu e Julieta” para esse tipo de trama, fazendo com que o seu par de protagonistas exponha o ridículo de preceitos religiosos e preconceitos sociais e raciais que parecem estar fora de sintonia com o mundo atual. Na conclusão de “Apenas Um Beijo”, Casim e Roisin simplesmente ignoram as velhacarias que se escondem sob o manto da “tradição” e do “respeitável” e ficam juntos, sem que seja necessário que o roteiro apele para uma tragédia ou algo parecido. Essa naturalidade com que Loach enquadra a história de amor do filme é fascinante, fazendo com que “Apenas Um Beijo” esteja a léguas de distância dos ideais ultrapassados de romantismo de séculos atrás e do sentimentalismo barato de novelas e afins, retratando tanto o amor como o próprio sexo num patamar muito mais de acordo e verdadeiro com o mundo contemporâneo.

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