Mesmo não apresentando maiores arroubos em termos estilístico, “Em Direção ao Sul” é um filme que reserva algumas surpresas bem interessantes. Para começar, o cineasta Laurent Cantet não abre concessões na temática do filme, mostrando franqueza e naturalidade no seu roteiro que tem como premissa inicial o turismo sexual que mulheres norte-americanas e européias realizam numa praia paradisíaca do Haiti. A partir disso, Cantet retrata sem cerimônias uma nova forma do universo feminino em encarar a própria sexualidade. O diretor prefere uma abordagem desapaixonada, não caindo nas armadilhas fáceis da pura exaltação desse comportamento ou em criar conseqüências que representariam alguma espécie de castigo moral para as personagens. O que se nas entrelinhas na verdade no filme é como esse padrão de encarar as relações amorosas se choca com concepções antigas de paixões idealizadas e românticas, o que fica evidenciado no conflito entre a cética e irônica Ellen (Charlotte Rampling) e a sonhadora e carente Brenda (Karen Young). Nesse sentido, é provável que os admiradores de novelas televisivas ou daquelas comédias água-com-açúcar com a Meg Ryan fiquem chocados com a visão seca e ácida sobre o amor de “Em Direção ao Sul”. A cena, por exemplo, em que a cinqüentona Ellen enumera os motivos que a fazem não se casar impressiona pela acidez e crueza de seus comentários.
Laurent Cantet também consegue resultados muito bons na própria forma com que o Haiti é utilizado como pano-de-fundo para a trama, variando entre um registro de tons luminosos e sensuais para as seqüências de praia e um estilo quase documental ao focalizar a miséria e violência presentes nos momentos da história que se passam na cidade próxima ao litoral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário