Lembro-me que ano passado, ao ouvir uma discussão sobre a premiação do Oscar de 2006, ouvi um comentário colocando que não se entendia por que “Johnny e June”, a cinebiografia do genial cantor de country e rock Johnny Cash, estaria entre os indicados à melhor filme devido ao fato de ser uma obra que não trazia grandes novidades. Ora, essa questão de originalidade do cinema é muito relativa. É claro que é extremamente salutar que surjam obras que tragam algum sopro de revitalização para o cinema, pois é isso que faz com que o mesmo continue relevante como meio de expressão. Ao mesmo tempo, entretanto, é impossível que surjam constantemente produções revolucionárias e que alterem radicalmente a estrutura das coisas. Ou seja, não dá para não gostar de um filme simplesmente porque o mesmo não abalou a história do cinema. “Johnny e June” não tem essa pretensão apoteótica. Sua intenção é oferecer uma visão humana sobre a história pessoal, com todas as suas glórias e contradições, de um dos maiores ícones da música norte-americana, e nisso o filme é bem sucedido. O diretor James Mangold não realizou uma obra que se dedica exclusivamente a tecer loas ou beatificar a figura de Cash. Muito pelo contrário. O filme mostra como a vida cheia de altos e baixos do cantor estava intrinsecamente ligada à própria música torturada e sombria do mesmo. O conjunto de fotografia, edição e direção de arte recriam com felicidade episódios memoráveis não só da trajetória do protagonista como também da música dos EUA dos últimos 50 anos, principalmente das gravações e excursões do impressionante elenco de roqueiros da mitológica Sun Records (Cash, Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins) e o show realizado por Cash na Folson Prison, captando com sensibilidade o espírito de uma época. E é claro que não daria para esquecer de mencionar a fantástica seqüência em que Cash vai pela primeira vez na Sun e o dono da gravadora, o lendário Sam Phillips, pede para que ele toque a sua “verdade”, sendo que Cash lasca uma interpretação sentida e arrepiante de “Folson Prison Blues”. O resultado é de arrepiar a espinha.
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