quinta-feira, setembro 23, 2010

O Bem Amado, de Guel Arraes **


Não cheguei a acompanhar a novela baseada na peça de teatro original de Dias Gomes, mas lembro do seriado exibido na década de 1980 pela Globo. Na época, ficava admirado pelo texto muito bem azeitado dos episódios da série, que combinavam com precisão comédia picaresca e uma sutil ironia política, além de interpretações memoráveis de atores como Paulo Gracindo, Lima Duarte e Emiliano Queiroz. Dessa forma, considerei frustrante esta recente adaptação cinematográfica de “O Bem Amado” (2010). Ao contextualizar a trama meses antes do Golpe de 1964, a produção dirigida por Guel Arraes apresenta em algumas seqüências um inexplicável e aborrecido tom didático. Mesmo que a intenção de utilização desse recurso narrativo fosse cômica, o resultado fica distante do riso. Arraes também parece não se acertar na incorporação de macetes típicos de televisão na linguagem de cinema. O resultado é de que a estética de “O Bem Amado” tranca em uma cansativa estrutura de teatro filmado. Quando consegue escapar dessa armadilha formal, entretanto, o cineasta até apresenta alguns momentos inspirados, principalmente nas cenas que envolvem o personagem Zeca Diabo (José Wilker), quando se emula um pastiche de faroeste. Mesmo assim, o saldo final de “O Bem Amado” fica muito abaixo do esperado no sentido das possibilidades criativas que a obra original de Dias Gomes oferecia para uma leitura contemporânea.

2 comentários:

pseudo-autor disse...

Eu acho esse filme complicado de analisar. Pra quem assistiu a novela na época, ele tem uma configuração melhor do que pras novas gerações. Falaram que o Nanini estava exagerado na pele do Odorico Paraguaçu, mas o personagem era uma figuraça exótica! Não entendi direito o porquê das críticas.

Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com

André Kleinert disse...

Acho que esse estranhamento quanto à atuação do Marcos Nanini vem do fato de que no quesito das interpretações dramática boa parte do elenco de "O Bem Amado" envereda para anti-naturalismo, com irônicos exageros melodramáticos. Na verdade, acho isso um dos pontos positivos do filme.