No cinema de Dario Argento, trama é algo quase tênue que funciona como pretexto para uma narrativa repleta de apurados detalhes formais. Isso não quer dizer, entretanto, que os roteiros dos filmes de Argento não apresentem aspectos interessantes. Mesmo que destituídos de maiores profundidades psicológicas, eles trazem à tona um certo teor sórdido com personagens amorais e crimes brutais. Tais características se revelam adequadas para as atmosferas sombrias orquestradas com precisão por Argento. Em “Quatro Moscas em Veludo Cinza” (1972), essa linguagem cinematográfica do cineasta se aflora com naturalidade. Assim como em outros filmes de Argento, há a sensação de criação de um universo particular e atemporal (acentuada pela trilha sonora, uma extraordinária combinação entre temas típicos de Enio Morricone para o gênero giallo e canções hard rock com pitadas de progressivo). As criaturas do cineasta circundam em torno do fio de narrativa e funcionam mais como um elemento pictório da construção de sequências de uma grandeza visual que chega ao limite do barroco. Argento manipula como poucos os contraste entre luz e sombras em algumas cenas – os momentos em que os personagens interagem com a escuridão revelam um inspirado trabalho de direção de fotografia. O saldo final de “Quatro Moscas em Veludo Cinza” revela um artista sempre inquieto em explorar as possibilidades criativas que o cinema oferece.
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