sexta-feira, setembro 03, 2010

À Prova de Morte, de Quentin Tarantino ****


A metade de Tarantino no projeto “Grindhouse” é a prova radical de que ele cada vez mais se volta para uma dimensão própria e pouca ligada aos atuais cânones cinematográficos. Normalmente há a tendência de que cineastas “amadureçam” com o passar dos anos e se tornem mais acessíveis e respeitáveis para crítica e público, mas Tarantino, contrariamente, avança rumo a um cinema desvinculado dos padrões de bom gosto. Dessa forma, não se melindra em realizar uma obra em que revitaliza os clichês dos filmes de psicopata e de perseguições automobilísticas ao mesmo tempo que afia seu virtuosismo cinematográfico. A recriação da ambientação dos filmes baratos de gênero que imperavam nas antigas sessões grindhouse é apenas o ponto de partida para um filme que se descarna de elementos supérfluos e se concentra na pura ação. Nesse sentido, entenda-se por ação não apenas as seqüências de violência e velocidade, mas também aquelas dominadas por diálogos ágeis e cortantes. Nesse último aspecto, “À Prova de Morte” (2007) traz um texto primoroso de Tarantino ao combinar magistralmente vulgaridade e sagacidade.

O cinema de À Prova de Morte se despe de planos contemplativos e caracterizações inutilmente aprofundadas e se reduz a um esqueleto de pura dinâmica narrativa. É essa a grande ousadia do filme e que o aproxima de outras grandes obras-primas subestimadas como “Viver e Morrer em Los Angeles” (1985) e “Rejeitados Pelo Diabo” (2005). Nesse contexto, até os limites entre o bem o mal na trama se tornam tênues, fazendo com que Tarantino crie um mundo amoral e sedutor. Suas “heroínas” são escancaradamente hedonistas e decididas, variando com a maior naturalidade de conversas sobre intimidades femininas até momentos de pura brutalidade vingativa. Stuntman Mike (Kurt Russell) é um vilão naquilo que é mais essencial para um antagonista: odioso, covarde, fanfarrão e com direito a gritos histéricos no final quando é espancado por algumas “mocinhas”. Provavelmente, é o tipo de papel que Russell há anos aguardava!!

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