Um dos grandes méritos de “O Pequeno Nicolau” (2009) é conseguir preservar dentro de uma estrutura cinematográfica muito da linguagem dos quadrinhos, mídia originária em que surgiu a obra em questão. A caracterização das situações e personagens beira o cartunesco. Mesmo que o filme reflita vários dilemas e considerações da infância, predomina o gosto por um certo exagero. O personagem-título e seus amigos de colégio são apresentados cada um como estereótipos de comportamentos infantis: o boa-praça, o desligado, o gordinho comilão, o brigão, o certinho puxa-saco, etc. Isso, entretanto, funciona muito a favor do filme, no sentido que acentua um tom mais delirante para os momentos cômicos do filme. É quase como se assistisse um desenho animado vivenciado por criatura de carne-e-osso, o que permite até algumas ousadias que chegam as raias do politicamente incorreto. A forma com que o garoto preguiçoso e que não gosta de estudar é mostrado, por exemplo, traz uma grau de ironia que mentes mais conservadoras poderiam não apreciar muito... Em tempos que transposições dos comics para a tela grande pipocam de todos os lados, é interessante que surja uma produção como “O Pequeno Nicolau” que explora com sensibilidade as possibilidades criativas que o encontro entre cinema e HQs pode oferecer.
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