Vamos concordar em uma coisa: Godard nunca foi de facilitar as coisas. E com o passar dos anos, o cara foi ficando cada vez mais complicado. Comparados com suas produções mais recentes, seus filmes iniciais são altamente acessíveis. “Film Socialisme” (2010) coroa essa viagem ao hermetismo de forma radical. Há uma tendência forte para a fragmentação ao se estabelecer narrativas que aparentemente pouco se relacionam. A tendência para o difuso se evidencia também na forma de filmar, que varia de planos sequências magníficos até colagens abruptas. Godard combina também trechos de técnicas documentais com momentos dramatizados de encenação antinaturalista (o que é o cerne de praticamente toda a sua filmografia). A profusão de diálogos quase desconexos em várias línguas acentua ainda mais a sensação de um mundo em colapso. Talvez a simbologia que venha no subtexto das técnicas particulares do cineasta em “Film Socialisme” possa beirar o impenetrável. O filme, entretanto, é sedutor pelas suas imagens e também pela impactante conjunção de tais imagens com a faixa sonora (música, diálogos e ruídos convivem em estranha harmonia): às vezes não entendemos muito o quê está acontecendo na tela, mas não desgrudamos os olhos dela.
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