Pode-se dizer que o auge criativo do diretor francês Claude Chabrol esteve concentrado em seus últimos 25 anos de carreira. Em filmes como “Ciúme – O Inferno do Amor Possessivo” (1994), “Mulheres Diabólicas” (1995), “A Teia de Chocolate” (2000) e “A Dama de Honra” (2004) ele administrava um estilo próprio conciso, em que combinava magistralmente objetivas tramas de suspense com uma requintada caracterização psicológica de seus personagens, nunca dispensando a abordagem seca na sua estética cinematográfica. “Quem Matou Leda?” (1959), um de seus primeiros filmes, não trazia ainda essa forma mais compacta de filmar. Chabrol parece querer abarcar todos os gêneros na mesma produção - suspense, melodrama, comédia de costume – resultando num pastiche irônico, estando em sintonia com as colagens de referência de um de seus colegas de Nouvelle Vague, Jean-Luc Godard. Tal montanha russa de gêneros, entretanto, acaba sendo o ponto fraco de “Quem Matou Leda?” por deixar sua narrativa um tanto irregular, principalmente quando descamba em exagerados rococós românticos.
O forte do filme está na forma com que Chabrol manipula o tempo narrativo, esmiuçando ao máximo a ação cinematográfica na descrição de detalhes do roteiro em bem engendradas idas e vindas de presente e passado. Contribui para isso também a eficiente utilização de planos sequëncias que acompanham as tortuosas trajetórias dos personagens. E por falar neles, boa parte dos melhores momentos da produção traz a presença luminosa de Jean-Paul Belmondo como o boa vida Laszlo, um hedonista sempre pronto a tirar um sarro dos costumes pequenos burgueses. Aliás, a forte atmosfera dúbia de sensualidade e repressão que permeia todo o filme também é outro dos grandes méritos da obra e que também ajuda a tornar “Quem Matou Leda?” uma pérola de Chabrol a ser descoberta.
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