Há em “VIPs” (2011) um certo grau de ousadia formal. A situação do protagonista Marcelo (Wagner Moura) apresentar desequilíbrio psíquico faz com que narrativa fique marcada por uma variação na sua ambientação, que transita entre as realidades dos fatos e os delírios do personagem. A dinâmica que se estabelece na variação destes planos (o real e o imaginário) é quem fornece a densidade dramática do filme. Marcelo se envolve em situações limites, em algumas oportunidades colocando em risco a sua liberdade, em outras a própria vida, mas age como se tudo fosse um grande jogo. Assim, “VIPs” mostra em alguns momentos uma bem vinda sensação de dubiedade, em que sequências de suspense também trazem um insólita carga de humor, principalmente pelos elementos do insólito e do ridículo inerentes ao modo hedonista e lúdico com que Marcelo encara a vida – a interpretação over de Moura acentua ainda mais tal visão (o que se contrapõe com o tom de fúria contida que o ator tinha composto para o Capitão Nascimento de “Tropa de Elite 2”). O diretor Toniko Melo imprime um estilo de filmar que parece variar de acordo com a própria oscilação dos padrões de realidade. Quando o personagem principal entra nas suas “viagens”, a fotografia ganha um tom granulado. Se a trama envereda para a ação, a edição fica mais picotada. Tal alternância acaba revelando um dos pontos fracos de “VIPs”: há uma preocupação excessiva em facilitar para o espectador a visão das fronteiras entre o real e o irreal (dá para sacar desde o início do filme, por exemplo, que o “pai” de Marcelo é uma figura que só existe na imaginação dele). Há uma tendência também em se procurar explicações simplificadoras para as motivações do protagonista, como se houvesse uma necessidade de justificar suas ações (talvez tais equívocos sejam heranças das origens publicitárias e televisivas de Melo).
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