quinta-feira, março 22, 2012

Margin Call - O dia antes do fim, de J.C. Chandor ***


Se o documentário “Trabalho Interno” (2010) trazia uma versão mais técnica e detalhada sobre os motivos que levaram à crise econômica de 2008 nos Estados Unidos (e que se espalhou pelo resto do mundo e estende seus efeitos até hoje), “Margin Call – O dia antes do fim” (2011) é a versão dramatizada de tais fatos, mas se desenvolvendo no microcosmo do escritório de um grande banco. É claro que a pretensão da obra de J.C. Chandor não é ser didática sobre uma situação histórica tão importante, mas os eventos também não servem como mero pano de fundo para o drama dos personagens. E mesmo sendo uma obra ficcional em essência, por um lado ela é até se aprofunda mais no tema do que o próprio “Trabalho Interno” no sentido de não ser tão maniqueísta e por focar com mais eficácia no lado humano. Se o referido documentário e “Capitalismo – Uma história de amor” (2009), de Michael Moore, investem numa lógica de culpar quase que exclusivamente bancos, o governo e outros agentes financeiros como responsáveis pela crise, em “Margin Call” percebe-se que o furo é mais embaixo – a tragédia econômica também tem origem numa sociedade obcecada com consumo, status social e hedonismo. O filme parece relacionar a crise a um vazio existencial coletivo. Os bem delineados dilemas morais dos personagens do filme refletem com precisão tal visão temática.

Também é mérito do diretor J.C. Chandor embalar essa mais complexa visão temática a uma concepção formal bastante sóbria. Fotografia e edição compõem uma atmosfera dualista, em que arroubos emocionais e frieza se digladiam com elegância, permitindo-se ainda a leves toques irônicos. Chandor também sabe extrair algumas performances dramáticas notáveis de atores como Kevin Spacey, Paul Bettany e Jeremy Irons.

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