Por tanto tempo eu fiquei queimando filmes que utilizavam o recurso da câmera subjetiva, aquela em que um personagem manipularia a câmera, que agora até fico surpreso com a qualidade expressiva de produções recentes que adotam tal estética. Depois dos ótimos “Atividade Paranormal 3” (2011) e “Poder Sem Limites” (2012), “Projeto X – uma festa fora de controle” (2012) é mais um exemplar de respeito desta escola. Só que dessa vez dentro do gênero comédia, o que representa até algo de insólito. O filme seria um suposto registro caseiro de uma festa de aniversário de um pacato adolescente que acaba atingindo proporções épicas e altamente destrutivas. Pode-se até enquadrar “Projeto X” naquela linha de obras sobre adolescentes norte-americanos em busca de sexo e envolvidos em escatologias e outros exageros (na linha das franquias “Porkys” e “American Pie”). Na verdade, entretanto, o filme se filia mais como uma espécie de herdeiro espiritual de “American Graffiti – Loucuras de Verão” (1973) ou “Clube dos Cafajestes” (1978), no sentido de ser uma produção emblemática da juventude de uma determinada época. Por mais que haja elementos tradicionais no roteiro como a busca pela perda da virgindade ou do desejo de aceitação pelos colegas de escola, permeia também em “Projeto X” um certo tom ambíguo na sua moral – há consumo desenfreado de álcool e drogas ilegais (praticamente sem conotação de culpa), vandalismo e violência. Os excessos e o hedonismo selvagem parecem quase um desafio perante um Estados Unidos cada vez mais carola (os dedos em riste do protagonista Thomas para um helicóptero da imprensa soam como um desafio a toda sociedade). E apesar da aparente precariedade do registro fílmico de um documentário “amador”, há no filme uma propensão para o grandioso em algumas determinadas seqüências. Quando Thomas sobe no telhado de sua casa e num olhar de 360º vê a dimensão assustadora que a sua pequena festa tomou, o impacto sensorial beira o arrepiante. São justamente essas contradições temáticas e formais de “Projeto X” que lhe dão uma atmosfera criativa tão inquietante.
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