Uma das coisas fascinantes na história do cinema é aquela
situação em que uma determinada obra, a partir de uma série de limitações e
convenções, consegue transgredir e se expandir para terrenos que vão muito além
do esperado. Esse é justamente o caso desse extraordinário “A força dos
sentidos” (1980). Originária da linha de montagem de filmes eróticos da Boca do
Lixo, essa produção dirigida por Jean Garrett atinge um nível de consistência
artística admirável. Estão lá as habituais musas da Boca do Lixo (com destaque
absoluto para uma Aldine Müller no esplendor de sua sensualidade e beleza), mas
as cenas de sexo das quais participam ganham uma dimensão que extrapola a
excitação – Garrett lhes dá uma ambientação misteriosa e até mórbida. Na
realidade, todo o filme tem essa atmosfera sombria e obscura, remetendo a um
clima típico das produções de horror europeu dos anos 60 e 70, principalmente
com ênfase numa certa tensão psicológica, em que a fronteira do delírio e do
metafísico não é bem precisa. Colabora para essa insólita abordagem de Garret a
direção de fotografia elegante de Carlos Reichenbach, além da brilhante utilização
de temas de música erudita na trilha sonora (expediente que era recorrente na
Boca do Lixo – afinal, assim não se precisava pagar os direitos autorais....).
Um comentário:
Parece que vai ser exibido no Fantaspoa ou já foi.
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