Em tempos que se fala em “ditabranda”, questiona-se a
validade de indenizações para ex-exilados e famílias de desaparecidos e até o
Lobão põe em dúvida se houve tortura durante a ditadura militar no Brasil, um
filme como “Hoje” (2011) acaba se mostrando como atemporal. Mais que um comentário
político, a obra de Tata Amaral é marcada por um subjetivismo pungente – as
marcas da violência física e moral sofrida pela protagonista Vera (Denise
Fraga) são expostas com contundência e sem concessões. “Hoje” parece questionar
o espectador e a própria sociedade sobre a prepotência de julgar o quanto o
sofrimento de uma pessoa pode valer. Para ilustrar essa temática complexa, a
cineasta busca um formalismo insólito, combinando sutilmente os elementos
cinematográficos usuais de ficção com toques documentais e jornalísticos (por
vezes, os personagens parecem depor à câmera). Não se trata, entretanto, de “teatro
filmado”. O que Amaral faz é não se limitar à linguagem naturalista. Na
verdade, “Hoje” é uma narrativa de cunho fantástico, oscilando entre o delírio
e o onírico. O que se retrata no filme é um turbilhão emocional, um ajuste de
conta pessoal de Vera com o próprio passado. E são justamente essas escolhas artísticas
insólitas e difíceis de Amaral que tornam seu filme tão inquietante e marcante.
Um comentário:
Assisti na pre-estreia no cinbancários. Indispensável
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