quarta-feira, maio 08, 2013

Hoje, de Tata Amaral ***


Em tempos que se fala em “ditabranda”, questiona-se a validade de indenizações para ex-exilados e famílias de desaparecidos e até o Lobão põe em dúvida se houve tortura durante a ditadura militar no Brasil, um filme como “Hoje” (2011) acaba se mostrando como atemporal. Mais que um comentário político, a obra de Tata Amaral é marcada por um subjetivismo pungente – as marcas da violência física e moral sofrida pela protagonista Vera (Denise Fraga) são expostas com contundência e sem concessões. “Hoje” parece questionar o espectador e a própria sociedade sobre a prepotência de julgar o quanto o sofrimento de uma pessoa pode valer. Para ilustrar essa temática complexa, a cineasta busca um formalismo insólito, combinando sutilmente os elementos cinematográficos usuais de ficção com toques documentais e jornalísticos (por vezes, os personagens parecem depor à câmera). Não se trata, entretanto, de “teatro filmado”. O que Amaral faz é não se limitar à linguagem naturalista. Na verdade, “Hoje” é uma narrativa de cunho fantástico, oscilando entre o delírio e o onírico. O que se retrata no filme é um turbilhão emocional, um ajuste de conta pessoal de Vera com o próprio passado. E são justamente essas escolhas artísticas insólitas e difíceis de Amaral que tornam seu filme tão inquietante e marcante.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Assisti na pre-estreia no cinbancários. Indispensável