terça-feira, novembro 17, 2015

O futuro, de Mirada July **1/2

Mais do que cineasta, a norte-americana Miranda July é essencialmente uma artista multimídia. Nesse sentido, suas produções cinematográficas mais parecem um laboratório de suas ideias e obsessões artísticas do que propriamente filmes perfeitamente acabados. Coerente com tal proposta, “O futuro” (2011) pode frustrar aqueles que esperam um formalismo rebuscado ou equilibrado. Quem estiver com a mente mais aberta para a proposta estética de July, entretanto, pode até se sentir envolvido em algumas cenas com a narrativa trôpega e que por vezes extrapola para o fabular. Não se trata de uma obra de fácil digestão – as situações e dilemas do roteiro são expostos num tom oscilante e fragmentado, com os eventos da tramas e mesmo a caracterização psicológica dos personagens se desenvolvendo pelas vias do aleatório e do onírico. Por vezes, predomina uma certa ambiência de distanciamento emocional. Em outras passagens, a combinação entre intimismo cortante e elementos de ficção científica acaba criando uma atmosfera estranha e perturbadora. Mesmo que o resultado final de “O futuro” seja irregular, as ousadias e excentricidades de July acabam criando algumas cenas capazes de se fixar sutilmente em nosso imaginário.

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