terça-feira, novembro 10, 2015

Straight Outta Compton - A história do N.W.A., de F. Gary Gray ***

O fato de Dr. Dre e Ice Cube, membros originais do N.W.A., serem produtores da cinebiografia do lendário grupo de rap, “Straight Outta Comtpon – A história do N.W.A.” (2015), acaba não passando o incólume. Por vários momentos, a produção parece ter um caráter institucional ou de marketing pessoal dos artistas focados. Os quinze minutos finais do filme são bem emblemáticos dessa tendência de propaganda autocelebratória. E é justamente aí que reside as sequências mais fracas da obra dirigida por F. Gary Gray, ficando visível um artificialismo incômodo na narrativa. Por outro lado, existem outros motivos que fazem com que se entenda porque “Straight Outta Compton” tenha gerado tanta empatia com uma expressiva parcela do público. Para começar, as cenas envolvendo ensaios, gravações em estúdio e shows são empolgantes na forma com que conjugam a música impactante do N.W.A. com uma encenação precisa e icônica. É de se destacar ainda que Gray é um diretor competente para cenas de ação, o que fica evidente na tensa sequência de abertura do filme, além dos momentos que retratam o cotidiano dos personagens principais com repressão policial e envolvimento com criminalidade. E falando nessa questão da brutalidade da polícia, aí reside também um dos grandes méritos da produção, que transparece uma raiva sincera e contundente por parte da população negra nos Estados Unidos diante de uma conjuntura de sistemático desrespeito com direitos humanos por parte de órgãos de segurança do Estado e preconceitos raciais diversos a gerar situações humilhantes e vexatórias. O roteiro não abre concessões e nem soluções conciliatórias e paternalistas em sua visão de mundo: todos os personagens brancos são vistos como racistas e exploradores, enquanto que o teor desbocado e revoltado das letras do N.W.A. é a consequência natural e justa contra a hipocrisia e preconceito social da sociedade norte-americana. Discordando ou não de tal ótica, é inegável que ela é ousada e desafiadora perante um status quo tão alienado e conformista.

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