sexta-feira, novembro 06, 2015

Obra, de Gregório Graziasi **

No histórico pessoal do diretor Gregório Graziasi, consta que por um tempo ele foi estudante de arquitetura. Em seu primeiro longa-metragem, “Obra” (2013), tal referência não passa despercebida. O protagonista da trama, João Carlos (Irandhir Santos), é um arquiteto, enquanto o cerne da concepção formal do filme se baseia na direção de fotografia que valoriza bastante os cenários urbanos de prédios e asfaltos da cidade de São Paulo. Os enquadramentos compõem um ambientação ambígua, que oscila entre o requinte plástico de formas e texturas e o sufocamento do concreto duro e frio típico da capital paulista. A intenção de Graziasi é clara – estabelecer um paralelo entre essa arquitetura caótica, mista de beleza melancólica e feiura opressiva, com o estado de angústia existencial do personagem principal. A trama, formatada dentro de uma estrutura narrativa ligada ao gênero suspense, ao poucos se expande para uma conotação mais simbólica, a retratar principalmente a desigualdade social e o conflito de classes típicos da sociedade brasileira contemporânea. Se as intenções artísticas de Graziasi são ambiciosas e ousadas, por outro lado a execução de suas concepções deixa bastante a desejar. É inegável que a produção apresenta um esmero estético, mas isso não consegue se vincular a uma narrativa envolvente. A encenação é engessada, sem frescor ou naturalidade, e mesmo as pretensas metáforas do roteiro se efetivam de forma primária e artificial. A falta de traquejo narrativo em “Obra” compromete até mesmo as atuações do elenco, onde mesmo a intepretação de um ator diferenciado como Irandhir Santos se mostra afetada e pouco convincente.

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