segunda-feira, novembro 23, 2015

Olmo e a gaivota, de Petra Costa e Lea Glob ***

Se em “Elena” (2012) a diretora Petra Costa realizou um documentário marcado por um subjetivismo que fazia com que a obra beirasse a ficção, em “Olmo e a gaivota” (2014), codirigido com a dinamarquesa Lea Glob, ela novamente se embrenha em uma fronteira nebulosa entre o real e o imaginário. Essa produção mais recente apresenta uma estrutura narrativa intrincada, em que as situações e os personagens podem ser considerados “verdadeiros”, só que se desenvolvem de forma encenada, com direito, inclusive, a intervenções diretas das realizadoras interagindo com seus atores. Esse hibrido de cinema verdade, ficção, metalinguagem e teatro (os “personagens” são em sua maioria profissionais do meio) apresenta um sensorialismo desconcertante, pois os recursos estéticos não estão ali apenas para experimentos de linguagem, mostrando também um sintonia notável com a própria temática do filme. A obra se propõe a uma espécie de desnudamento sentimental da protagonista Olivia Corsini, uma atriz que se descobre grávida justamente quando estava em vias de estrear em uma ambiciosa montagem de “A gaivota”, de Anton Tchecov, acaba tendo de abandonar a peça e entra em uma crise existencial ao ter de ficar recolhida em casa durante o período de gestação. Através dessa história intimista, as diretora propõem um olhar ao mesmo tempo cru e sensível da condição feminina perante ao machismo e ao materialismo típicos da sociedade ocidental contemporânea. E não se trata de mera chorumela sentimentalista – ainda que não tenha a contundência formal e o clima de loucura e onirismo constantes de “Elena”, “Olmo e a gaivota” é contundente e sem concessões no seu discurso estilístico e de conteúdo.

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