sexta-feira, maio 13, 2016

A assassina, de Hou Hsiao-Hsine ****

O wuchia, espécie de junção dos gêneros aventuras e artes marciais repleto de trucagens para simular golpes e malabarismos que vão além do realismo, é um estilo cinematográfico característico da China e que nos últimos anos vem recebendo um tratamento formal e temático que o torne mais “artístico” e palatável para as plateias ocidentais. Dentro dessa abordagem, houve obras que se destacaram nesse revisionismo estético e se tornaram referências, como “O tigre e o dragão” (2000), “Herói” (2002) e “O clã das adagas voadoras” (2003). Se tais filmes mostraram uma grande profusão de coreografias espetaculares de lutas e tramas marcadas por um certo dramatismo mais derramado, “A assassina” (2015) trafega por caminhos diferenciados nessa releitura do wuchia. O diretor Hou Hsiao-Hsine adota uma abordagem mais sutil e reflexiva, em que as cenas de ação são mais econômicas na quantidade em que aparecem na trama, mas sempre com uma beleza plástica e violência gráfica memoráveis. Além disso, o cineasta valoriza bastante a atmosfera e a composição cênica das sequências intimistas. Nesse sentido, é de se reparar o uso frequente de planos-sequências fixos, com a câmera filmando sob véus ou pelas frestas de portas e janelas, dando ao filme um caráter entre o irreal e o onírico. Mesmo o roteiro apresenta detalhes insólitos, em que a trama repleta de intrigas de poder ganha uma conotação metafísica e repleta de simbolismos fascinantes. Todos esses detalhes narrativos fazem de “A assassina” uma obra de estranho encanto e que leva o wuchia por caminhos autorais bem distantes dos padrões habituais do cinema de ação contemporâneo.

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