segunda-feira, maio 30, 2016

Através da sombra, de Walter Lima Jr. ***

O cinema do diretor brasileiro Walter Lima Jr. sempre foi marcado por um tom passadista, algo como um estilo que funde literatura, memorialismo e mesmo um anacronismo de estranho encanto. “Através das sombras” (2015) é um título bem sintomático do particular viés artístico do cineasta. Adaptando o clássico literário fantástico “A volta do parafuso”, escrito por Henry James, Lima Jr. situa a obra no interior de São Paulo do início do século XX, mas mantém a essência gótica do livro original. O filme trabalha com elementos narrativos tradicionais, como direção de arte requintada, sutil atmosfera de terror psicológico e atuações sóbrias do elenco. Por outro lado, tais aspectos formais e temáticos não conseguem formar um todo narrativo convincente no sentido de que a obra consiga produzir uma tensão efetiva capaz de gerar para o espectador aquela síntese entre atração e repulsa necessária para o gênero fantástico. Faltou uma pegada mais contundente e ousada, que fazia, por exemplo, com que “A ostra e o vento” (1997), extraordinária produção de cunho fantástico dirigida por Lima Jr., fosse uma obra tão memorável e perturbadora. Ainda assim, “Através da sombra” é um trabalho de peso no atual panorama do cinema nacional e mantém a coerência autoral de qualidade de seu diretor.

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