segunda-feira, maio 09, 2016

Mr. Turner, de Mike Leigh ***1/2

O que se tem em “Mr. Turner” (2014) não é uma simples cinebiografia tradicional do pintor britânico J.M.W. Turner (Timothy Spall). Os caminhos narrativos adotados pelo diretor inglês Mike Leigh são bem mais profundos e inesperados. Ele se concentra nos anos finais da vida de seu protagonista, quando as idiossincrasias de seu comportamento e do seu cotidiano se acentuam. Os fatos atribulados de sua trajetória pessoal parecem se relacionar de forma intrincada com a sua própria arte, com Turner investindo numa série de pinturas perturbadoras, onde ele retrata obsessivamente sombrias paisagens marinhas tomadas por céus tempestuosos. A sensibilidade e o detalhismo imagético de seus quadros contrastam com uma personalidade difícil e nebulosa, por vezes beirando o brutal. Leigh consegue captar essa contradição existencial com notáveis complexidade e profundidade. Em termos formais, o cineasta obtém efeitos estéticos memoráveis, em que a direção de fotografia extrai uma composição visual que funde o registro visual naturalista com o pictórico das telas de Turner. No mais, destaca-se o habitual talento de Leigh na direção de elenco, evidente, principalmente, na composição dramática repleta de nuances de Timothy Spall.

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