quarta-feira, maio 11, 2016

Cordilheiras do mar: A fúria do fogo bárbaro, de Geneton Moraes Neto ***

Glauber Rocha não é exatamente uma unanimidade. Ainda que tenha vários apreciadores de seus filmes, há um número considerável de detratores que o consideram pretensiosa, chato e superestimado. No meio dessa divergência de opiniões, entretanto, é inegável que o cineasta baiano seja um dos nomes mais relevantes da história do cinema nacional, pelo menos em termos artísticos e existenciais. Isso fica evidente, por exemplo, nos vários documentários tendo ele como protagonista que foram lançados após a sua morte. “Cordilheiras do mar: A fúria do fogo bárbaro” (2014) é mais um exemplar dessa tendência, mas está longe de ser apenas mais um dentro dessa lista. Isso porque Glauber Rocha, além de cineasta personalíssimo, foi também pensador e orador brilhante, com visões e discursos versando com grande desenvoltura e conhecimento de causa sobre cinema, cultura e política. E é justamente nesse último ponto que se concentra o foco principal do documentário concebido por Geneton Moraes Neto. A produção dá vazão ao particular olhar de Glauber sobre o contexto histórico-político em que o Brasil estava inserido entre meados dos anos 70 e início dos anos 80, em pleno processo da “abertura gradual” promovida pelos generais Geisel e Golbery, mostrando ainda as duras consequências que ele sofreu ao emitir suas inesperadas declarações de simpatia às atitudes dos militares mencionados. A complexidade dessa situação é abordada com criatividade e sensibilidade por parte de Geneton, que combina de maneira eficiente depoimentos, imagens de arquivos e encenações vigorosas de textos de Glauber, fazendo com que o espectador seja jogado dentro do perturbador turbilhão de ideias e conceitos que era a mente do genial cineasta.

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