sexta-feira, junho 03, 2016

Drive-in da morte, de Brian Trenchard-Smith ****

O diretor australiano Brian Trenchard-Smith, bastante ativo nos anos 70 e 80 com filmes na linha exploitation, tem Quentin Tarantino como um dos seus grandes admiradores confessos. Ao se assistir a “Drive-in da morte” (1982) se pode entender o motivo de tal admiração. O filme é uma brilhante síntese entre ficção científica apocalíptica casca grossa, filme de gangues adolescentes e parábola sócio-política, algo como uma combinação entre “Mad Max”, comédias adolescentes oitentistas de John Hughes e a visão sombria de um futuro distópico de “1984” de George Orwell. A direção de Trenchard-Smith é fenomenal ao entrelaçar essas referências diversas com notável coesão e naturalidade. A encenação é exagerada, operística mesmo, evidenciada nas coreografias quase delirantes de lutas e nas alucinadas sequências automobilísticas, mas ao mesmo tempo revela surpreendente sutileza ao ressaltar as nuances contundentes do subtexto do roteiro que discorre sobre preconceitos sociais e raciais, alienação e violência estatal. A direção de arte também é peça fundamental dentro da originalíssima concepção artística da produção, em que o mau gosto de figurinos e os cenários urbanos em ruínas colaboram na perturbadora atmosfera de sordidez e opressão que paira sobre a narrativa, impressão essa reforçada pela fotografia “realismo neon” que era bem característica da época. Voltando a fazer comparações, o formalismo insólito e a abordagem temática de Trenchard-Smith remetem a um Walter Hill dirigindo “Ruas de fogo” (1984) entupido de anfetaminas e transbordando revolta política.

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