sexta-feira, junho 10, 2016

Maravilhoso Boccaccio, de Vitorio e Paolo Taviani ***

Os irmãos Taviani se permitem algumas ousadias em sua adaptação para a tela de grande de “Decamerão”. Em “Maravilhoso Boccaccio” (2015), logo no início, criam um preâmbulo bem diferente daquele da obra original, dando um caráter mais trágico e melancólico para a narrativa. Tal abordagem se torna predominante ao longo do filme – o requinte visual e o elegante trabalho de edição dão à produção uma atmosfera solene. Por vezes esse direcionamento artístico soa um tanto incômodo, dando uma impressão de assepsia formal que pode tornar o espectador indiferente ao filme, fazendo com que a qualidade atemporal das histórias criadas por Boccaccio sejam o principal gancho de interesse. Nesse sentido, tal concepção tem um resultado final frustrante se houver comparação com a magnífica e definitiva recriação cinematográfica do mesmo texto literário pelo mestre Pier-Paolo Pasolini e também se vier à mente o antológico resgate de Shakespeare pelos próprios Taviani em “César deve morrer” (2012). Nesse sentido, também não para esquecer a fenomenal adaptação que eles fizeram de histórias de Pirandello em “Kaos” (1984). Mas ainda que não esteja nesse panteão de obras memoráveis, “Maravilhoso Boccaccio” é um trabalho capaz de gerar interesse pelo simples fato de os irmãos diretores serem artistas muito acima da média, em que mesmo num trabalho menor conseguem transparecer quesitos notáveis como direção de arte esmerada, fotografia deslumbrante em algumas sequências e uma encenação repleta de achados dramáticos.

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