sexta-feira, junho 17, 2016

Dior e eu, de Frédéric Tcheng ***1/2

Talvez retratar os bastidores da concepção da coleção de grife de moda não seja exatamente um grande atrativo para uma parcela considerável do público de cinema. O que faz com que o documentário “Dior e eu” (2014) tenha um alcance mais universal e não se restrinja apenas ao interesse de iniciados, entretanto, é a abordagem do diretor Frédéric Tcheng. É claro que o filme traz alguns detalhes técnicos sobre o ambiente da elaboração e confecção de roupas e dos desfiles, mas a verdadeira tônica do filme é versar sobre o significado existencial, artístico e mercadológico desse meio, confrontando a importância da marca Dior com as aspirações e relações humanas em volta do protagonista Ralf Simons, estilista que fará a sua primeira coleção para a marca. Roteiro e estrutura narrativa não se acomodam a um simples drama de superação, ainda que o aspecto emocional se mostre com uma sutileza comovente. O documentário constrói uma atmosfera quase etérea ao focar a sensibilidade e transcendência que envolve um projeto como esse. As pressões envolvendo dinheiro e prestígio estão lá, mas uma das grandes sacadas de Tcheng é expor isso com sutileza e mesmo ironia, confrontando tais aspectos junto a personalidade serena e algo delicada de Simons. O cotidiano de tensão na idealização e feitura da coleção e as sequências de desfile são retratados com um misto de rigor e fascínio, dando para o mundo da moda uma grandeza expressiva e transcente mesmo para os olhos daqueles que não entendem muito do assunto.

Nenhum comentário: