quarta-feira, junho 29, 2016

Uma nova amiga, de François Ozon ***

O cineasta francês François Ozon parece ser uma espécie de cronista dos costumes da sociedade francesa pequeno burguesa contemporânea. Seus filmes geralmente versam sobre os desejos, os dilemas e as hipocrisias que rondam as relações humanas nessa faixa social, mantendo uma abordagem narrativa que ora envereda pelo melodrama contido, ora pela comédia de sutil ironia. “Uma nova amiga” (2015) é exemplar típico do estilo de Ozon – ao mostrar a trajetória de David (Romain Duris), homem que após enviuvar da jovem esposa passa a se travestir de mulher e acaba tendo um caso com a melhor amiga da falecida (Anaïs Demoustier), o diretor evita o sensacionalismo apelativo e estéril, procurando ressaltar mais uma atmosfera perturbadora, misto de atração e repulsa, além de inserir interessantes nuances psicanalíticas e simbólicas dentro do roteiro. Não chega a ser exatamente uma obra arrebatadora, mas tem uma narrativa envolvente e que por vezes surpreende com seus desdobramentos entre o trágico e o cômico. Além disso, o trabalho de direção de atores revela notável cuidado, principalmente na excelente composição dramática de Duris, que de maneira natural e progressiva passa a adotar gestual e expressões femininos sem cair no caricatural.

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