sexta-feira, junho 24, 2016

Independence Day: O ressurgimento, de Roland Emmerich **

É bem recorrente ao se observar críticas e análises em geral sobre um filme como “Independence Day: O ressurgimento” (2016) aparecer comentários dizendo que se trata apenas de uma ficção científica escapista cuja única função é divertir e que dessa forma não daria para exigir muito. Tal argumentação, entretanto, acaba não se sustentando ao se assistir a obra em questão. Por mais que seja fantasiosa, trata-se de uma produção que traz uma linha estética e temática destinada a passar uma visão de mundo muito bem definida. Pode-se ver ao longo da trama, várias sequências em que discursos patrióticos e edificantes são proferidos, sempre embalados por temas musicais ultra sentimentais. Isso sem falar das cenas de ação que ressaltam um híbrido de macheza e disposição de sacrifício por um bem maior (pode ser a pátria, a família ou simplesmente o sistema). Nesse sentido, tal concepção de ficção científica paranoica de invasão alienígena pouco difere do clássico “Vampiros de almas” (1956), em que o simbolismo evidente é dos ETs se relacionarem aos comunistas. No filme de Roland Emmerich, talvez essa associação seja mais difusa, em que o alienígena apenas pode ser aquele que seja diferente do padrão asséptico ocidental de branco-cristão, ainda que o roteiro evoque algo de democracia racial e global (claro que desde que comandada por militaristas norte-americanos). No final das contas, trata-se de uma peça de propaganda de fascismo light, coisa que há havia sido ironizada de maneira genial em “Tropas estelares” (1997). Mas ainda que esse novo capítulo de “Independence Days” se leve tão a sério no seu delírio militarista messiânico, não é isso que torna definitivamente o filme tão frustrante. Há detalhes imagéticos realmente atraentes, principalmente no que diz respeito a caracterização visual de naves e aliens, e mesmos algumas sequências de ação bem divertidas, mas tudo isso sucumbe mediante a falta de uma efetiva tensão dramática, da caracterização unidimensional de personagens e da narrativa saneada para não chocar as grandes audiências.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

É um filme que é representação do melhor e do pior da pálida década de 90. Diverte, mas envelheceu um pouco mal ao longo do tempo, principalmente num pós 11 de setembro, onde patriotismo americano daquele período se tornou piegas.