quinta-feira, junho 22, 2017

Eu me casei com uma pessoa estranha!, de Bill Plympton ****

Na última edição do FANTASPOA, na sessão em que foi homenageado pelo festival, o diretor de animações norte-americano Bill Plympton foi questionado sobre qual teria sido a inspiração principal para a realização do longa-metragem “Eu me casei com uma pessoa estranha?” (1997). Respondeu que o seu mote principal na elaboração da produção foi a de que um animador é uma espécie de deus na concepção de sua obra, em que personagens e toda a ambientação que os circunda são regidos pela sua vontade. E é justamente essa a impressão que se tem ao assistir ao filme em questão – é como se Plympton jogasse na cara do espectador sem nenhuma cerimônia boa parte de suas obsessões, desejos e diatribes. A trama do filme obedece a uma lógica onírica e que beira o instintivo, em que vários pilares tradicionais da sociedade ocidental (família, religião, governo, militarismo) são pisoteados de maneira inclemente em nome de um ideário libertário. Nessa perspectiva, o sexo e a imaginação criativa são celebrados como os pontos máximos da expressividade humana, e como as únicas vias para uma possível transcendência existencial. Embalando essa expressiva visão sócio-política-filosófica, há um grafismo e uma narrativa de viés alucinado e beleza perturbadora – ao invés da estética realista ou de estilização bem-comportada das animações tradicionais dos grandes estúdios, prevalecem visual e atmosfera delirantes e algo “sujos”, jogando a plateia dentro de um imaginário síntese entre a contestação e o lisérgico.

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