quarta-feira, junho 14, 2017

Pouco antes do amanhecer, de Jeff Lieberman ****

O roteiro e a estrutura narrativa de “Pouco antes do amanhecer” (1981) podem fazer pressupor que a obra em questão seja mais um tradicional slasher daqueles que apareciam com frequência nos cinemas nos anos 80. Um olhar mais atento, entretanto, faz com que se perceba que o filme do diretor norte-americano Jeff Lieberman vai bem mais além. Encenação, direção de fotografia e edição evidenciam uma abordagem mais minuciosa e quase contemplativa na forma que delineia situações e personagens e esmiúça a ação. Ainda que haja os habituais assassinatos sangrentos de jovens incautos em um local interiorano isolado, não se chega a privilegiar tanto a violência explícita, com Lieberman se mostrando mais concentrado na elaboração de uma narrativa atmosférica pautada pela tensão e ironia. É como se o cineasta fizesse uma releitura mais sardônica do clássico “Amargo pesadelo” (1972) e carregada num simbolismo ainda mais contestador, principalmente na visão ácida sobre a caipirice obscurantista do interior dos Estados Unidos e na reverência ao empoderamento feminino na figura da protagonista que se recusa a permanecer no papel de vítima inocente e indefesa.

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