sexta-feira, julho 07, 2006


Eros, de Michelangelo Antonioni, Steven Soderbergh e Wong Kar-Wai ***

O resultado final desse filme em episódios é tremendamente descompassado, tamanha a diversidade na qualidade de cada um deles. O primeiro, "Il Filo Pericoloso Delle Cose", de Antonioni, é pura decepção. O velho mestre italiano retoma uma de suas temáticas favoritas, a incomunicabilidade humana, de forma frouxa e vazia, não lembrando em nada a trama bem elaborada e madura de "A Noite" ou a extrema vivacidade narrativa e estilística de "Blow Up - Depois Daquele Beijo". Em quase nenhum momento o filme consegue realmente despertar algum interesse sobre uma trama capenga. Em vários momentos temos a impressão de estarmos vendo um longo comercial de sabonete. Aliás, há tempos eu não via atores tão mal dirigidos. Para não dizer que o filme é um desastre completo, há algumas belas cenas de nudez com Luisa Ranieri, mas mesmo assim isso é muito pouco para um cineasta que é uma das maiores referências na história do cinema. Já em "Equilibrium", de Soderbergh, as coisas melhoram bastante. Apesar de uma certa afetação do roteiro, o episódio rende alguns momentos bem divertidos, principalmente pelo cinismo e cara-de-pau do psiquiatra interpretado por Alan Arkin. De se destacar ainda a direção de fotografia em preto e branco, altamente estilosa. O que faz, entretanto, "Eros" realmente valer o ingresso é o espetacular episódio "The Hand", um dos melhores trabalhos já realizados pelo grande Wong Kar Wai. Tematicamente, lembra bastante o trabalho anterior do diretor chinês, "Amor a Flor da Pele", ao retratar uma história de amor impossível. Só que o resultado é ainda mais impactante, tendo em vista o tratamento ágil e conciso e ao mesmo tempo fortemente emocional que o cineasta consegue imprimir nesse trabalho mais recente. O relacionamento entre o jovem costureiro virgem e a prostituta que é sua cliente preferencial rende seqüências de rara beleza dramática, variando com sensibilidade da tensão erótica para a cumplicidade. A recriação da Xangai dos anos 60 também é magnífica, oscilando entre o chique e o deprimente, o que acaba sendo o pano-de-fundo perfeito para a trama que também envolve o apogeu e queda da prostituta interpretada por Gong Li.

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente, o filme é ruim. O André acertou uma!

Leonardo Saldanha