De vez em quando, no meio de afetações estilo Amelie Poulain ou de exercícios excessivos de verborragia intelectual, o cinema francês atual nos oferece alguma pérola. “Reis e Rainha”, produção de 2004, é um desses casos.
No terço inicial de “Reis e Rainha”, o diretor Arnaud Desplechin desenvolve duas tramas paralelas de forma simultânea e que aparentemente não estão conectadas uma com a outra. Em uma delas, Nora (Emmanunuelle Devos) é uma bela mãe solteira, profissionalmente bem resolvida, que está prestes a casar com um executivo almofadinha e que descobre que o pai está com câncer em estágio terminal. Na outra trama, temos Ismael (Mathieu Almaric), um músico porra louca que acaba internado em uma instituição psiquiátrica. Com o tempo, essas duas narrativas vão se confluindo, até descobrirmos que Nora e Ismael já foram casados. A forma com que tais tramas paralelas vão se entrelaçando é um primor de narrativa cinematográfica por parte do Desplechin, com o mesmo se utilizando de recursos de flashback e seqüências oníricas de maneira engenhosa e que estabelecem com perfeição o sentido do que estamos assistindo.
Muito da força de “Reis e Rainha” está no embate das personalidades de seus protagonistas. Em relação à Nora, nos primeiros momentos temos a noção da mulher exemplar: mãe dedicada, noiva séria, profissional competente e filha dedicada. Aos poucos, entretanto, vamos conhecendo cada vez mais a personagem e com sutileza as aparências caem por chão, revelando uma mulher fria, amarga e totalmente endurecida pela vida. A seqüência em que Nora lê uma carta póstuma de seu pai onde ele declara seu ódio pela filha devido à insensibilidade da mesma é o ápice da dissecação da personagem e impressiona pelo grau de crueza e força dramática. Em contraponto, Ismael é o desajustado mor: desequilibrado emocionalmente, egoísta, encrenqueiro e francamente misógino. Ao mesmo tempo, é o paradoxo perfeito para Nora também pela tremenda intensidade pessoal: colhendo ódios ou admirações, ninguém consegue ficar indiferente ao cara. É antológica, por exemplo, a cena em que fala para a psiquiatra da clínica em que está internado (Catherine Deneuve) que não aceita ser tratado pela mesma porque, segundo ele, “mulheres não têm alma”!!
Fundamentais para o brilhantismo nessa caracterização de personagens são as fantásticas interpretações dos atores principais. Emmanuelle Devos oferece para Nora uma atuação rica em nuances, em que olhares são tremendamente reveladores. Já Mathieu Almaric faz de Ismael uma verdadeira força da natureza. Nesse sentido, impossível não mencionar a inesquecível seqüência em que o mesmo apresenta uma dança insana para os seus “colegas” de hospício.
No terço inicial de “Reis e Rainha”, o diretor Arnaud Desplechin desenvolve duas tramas paralelas de forma simultânea e que aparentemente não estão conectadas uma com a outra. Em uma delas, Nora (Emmanunuelle Devos) é uma bela mãe solteira, profissionalmente bem resolvida, que está prestes a casar com um executivo almofadinha e que descobre que o pai está com câncer em estágio terminal. Na outra trama, temos Ismael (Mathieu Almaric), um músico porra louca que acaba internado em uma instituição psiquiátrica. Com o tempo, essas duas narrativas vão se confluindo, até descobrirmos que Nora e Ismael já foram casados. A forma com que tais tramas paralelas vão se entrelaçando é um primor de narrativa cinematográfica por parte do Desplechin, com o mesmo se utilizando de recursos de flashback e seqüências oníricas de maneira engenhosa e que estabelecem com perfeição o sentido do que estamos assistindo.
Muito da força de “Reis e Rainha” está no embate das personalidades de seus protagonistas. Em relação à Nora, nos primeiros momentos temos a noção da mulher exemplar: mãe dedicada, noiva séria, profissional competente e filha dedicada. Aos poucos, entretanto, vamos conhecendo cada vez mais a personagem e com sutileza as aparências caem por chão, revelando uma mulher fria, amarga e totalmente endurecida pela vida. A seqüência em que Nora lê uma carta póstuma de seu pai onde ele declara seu ódio pela filha devido à insensibilidade da mesma é o ápice da dissecação da personagem e impressiona pelo grau de crueza e força dramática. Em contraponto, Ismael é o desajustado mor: desequilibrado emocionalmente, egoísta, encrenqueiro e francamente misógino. Ao mesmo tempo, é o paradoxo perfeito para Nora também pela tremenda intensidade pessoal: colhendo ódios ou admirações, ninguém consegue ficar indiferente ao cara. É antológica, por exemplo, a cena em que fala para a psiquiatra da clínica em que está internado (Catherine Deneuve) que não aceita ser tratado pela mesma porque, segundo ele, “mulheres não têm alma”!!
Fundamentais para o brilhantismo nessa caracterização de personagens são as fantásticas interpretações dos atores principais. Emmanuelle Devos oferece para Nora uma atuação rica em nuances, em que olhares são tremendamente reveladores. Já Mathieu Almaric faz de Ismael uma verdadeira força da natureza. Nesse sentido, impossível não mencionar a inesquecível seqüência em que o mesmo apresenta uma dança insana para os seus “colegas” de hospício.
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