É claro que fazer um faroeste em pleno século XXI é uma tarefa complicada. Afinal, usar aqueles moldes clássicos de tramas maniqueístas envolvendo mocinhos e bandidos, ou índios no lugar dos bandidos, pode fazer com que se caia em anacronismos. Boa parte do que se fez no gênero nos últimos anos teve uma visão mais revisionista, onde se questiona até mesmo alguns dos valores mais caros dos "bang-bang" de outrora. Vivemos em tempos que são um misto de cinismo com ideais mais humanistas. Obras como "Dança Com Lobos" (1990), "Os Imperdoáveis" (1992) e "O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford" (2007), por exemplo, são reflexos dessa concepção contemporânea dos faroestes. "Appaloosa – Uma Cidade Sem Lei" (2008) também se encaixa nessa linha de produções. O cerne do roteiro é a luta de um xerife (Ed Harris) e seu assistente (Viggo Mortensen) em buscar a ordem civilizatória e de justiça na cidade de Appaloosa que se encontra acuada pelos desmandos e atos violentos de um brutal fazendeiro e pistoleiro (Jeremy Irons) e seus capangas. Opta-se no filme pela conciliação de uma abordagem que beira o mitológico, principalmente nas seqüências de duelos e tiroteios, e uma visão e estilo de filmar marcados por um teor naturalista, o que fica evidenciado na forma que se retrata a relação amorosa conturbada entre o protagonista e a sua noiva (Renée Zelveger), que parece variar as suas afeições de acordo com as circunstâncias. Dentro de todos esses conflitos, insere-se a busca de uma perspectiva que livre as situações e os personagens dos estereótipos fáceis, sendo que em vários momentos de "Appaloosa – Uma Cidade Sem Lei" o diretor Harris consegue atingir esse objetivo.
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