sexta-feira, janeiro 21, 2011

Desenrola, de Rosane Svartman **1/2


Quando fez um retrato autobiográfico de sua adolescência em “Os Incompreendidos” (1959), François Truffaut expôs sentimentos e situações que são recorrentes a todos os jovens que se encontram nessa fase da vida, independente de época, raça e classe social: imaturidade, revolta, incoerência, confusão. Talvez aí esteja a explicação da perenidade artística do longa de estreia do diretor francês. E também é provável que esse seja o ponto de desequilíbrio de “Desenrola” (2011). O que era para ser uma despretensiosa comédia dramática de ambientação juvenil acaba patinando por querer ser um retrato fiel de um certo tipo de juventude: contemporâneos adolescentes classe média no Rio de Janeiro. E daí dá-lhe depoimentos “espontâneos” de meninas sobre virgindade e cenas da garotada com a cabeça enfiada nos computadores. Essa necessidade de excessiva contextualização de época é algo que torna o filme já datado no momento imediato de seu lançamento. O filme só goza de alguma naturalidade quando parte sem cerimônia para o clima pueril de “boys meet girls”, chegando a lembrar em algumas seqüências alguns dos clássicos oitentistas do gênero dirigidos/produzidos pelo saudoso John Hughes como “Gatinhas e Gatões” (1984) e “A Garota de Rosa-Shocking” (1986) – aliás, referências aos anos 80 pontuam todo o filme. Pena que as boas sacadas de “Desenrola” acabam obscurecidas pelas necessidades antropológicas da produção.

P.S.: sabemos que hoje em dia para se realizar um filme no Brasil é preciso o apoio de patrocinadores, mas precisava fazer umas propagandas tão descaradas de curso de inglês e refrigerante??

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