O que caracteriza o cinema pernambucano como aquele mais
criativo do atual panorama nacional é uma abordagem visceral tanto em termos
formais quanto temáticos, em que os diretores buscam muito mais o impacto
sensorial do que uma adequação a padrões de bom gosto estético, vide obras
memoráveis como “A febre do rato” (2011), “O som ao redor” (2012), “Tatuagem” (2013)
e “Amor, plástico e barulho” (2013). O que se pode perceber em “A história da
eternidade” (2014) é quase que o oposto de tal direcionamento artístico. O
diretor Camilo Cavalcante usa como base de sua obra uma plasticidade requintada
e uma atmosfera de tons solenes. Fica-se com a impressão constante de que se
está assistindo a uma transposição de uma típica tragédia grega para os confins
do sertão nordestino. Mesmo as interpretações do elenco evocam uma certa
empostação em diálogos, expressões e gestos, além dos densos temas da trilha
sonora reforçarem aquela aura de seriedade e mesmo de opulência barroca. Ao
contrário de seus colegas conterrâneos, Cavalcante parece procurar legitimidade
autoral ao aderir a esses classicismos acadêmicos. Tais soluções narrativas por
vezes até trazem um certo encanto imagético para o filme, mas também tiram
muito do seu vigor narrativo. A produção se escora demais em simbolismos e
dilemas muito manjados, sem realmente tirar algo de efetivamente envolvente e espontâneo
de tais recursos. A forma com que o roteiro lida com temas tabus e controversos
como incesto, violência, culpa e repressão religiosa é marcada pela assepsia e
mesmo um moralismo enviesado. Se tal direcionamento artístico de Cavalcante
leva “A história da eternidade” para caminhos de maior aceitação para o público
médio, também é verdade, entretanto, que o torna uma experiência cinematográfica
pouco memorável.
Um comentário:
Essa fase do cinema Pernambucano esta fazendo história. Tanto que não me surpreenderia se participasse de um curso a respeito do assunto.
Visitem o meu blog de cinema: http://cinemacemanosluz.blogspot.com
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