Até dá para sentir que o diretor Jaume Collet-Serra procura
dar um toque autoral em “Noite sem fim” (2015), recheando a narrativa com
truques de edição, falsos planos-sequência e trucagens digitais. No contexto
geral, entretanto, tais floreios estéticos acabam soando supérfluos e mesmo
contraproducentes para o filme. Faltou à obra uma construção de atmosfera de
tensão mais consistente e uma encenação de concepção menos óbvia para que a
produção tivesse uma efetiva densidade dramática que cativasse a plateia. Por
mais que o roteiro delineie uma história que deveria se mostrar sufocante para
os seus principais personagens, a verdade é que as resoluções para os dilemas
da trama são banais e fáceis demais. Quando o protagonista Jimmy Conlon (Liam Neeson)
decide se livrar de vez do antagonista Shaw Maguire (Ed Harris) e seu bando, por
exemplo, faz isso com uma facilidade constrangedora, como se ele fosse um
super-homem antes adormecido. Collet-Serra parte de um conceito equivocado para
realizar uma obra do gênero policial: que para realizar esse tipo de filme,
basta atrolhar a trama de perseguições automobilísticas épicas e de tiroteios
sem fim. O resultado dessas escolhas do cineasta resulta em pura irrelevância.
Trabalhos recentes e extraordinários dentro do mesmo gênero como “Tudo por
justiça” (2013) e “O ano mais violento” (2015) dispensam esse tom frenético e
apostam em formalismo contido, ambientação sóbria e roteiro mais complexo, e
acabam se mostrando muito mais eficientes e memoráveis.
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