sexta-feira, maio 08, 2015

Dragões da violência, de Samuel Fuller ****


Uma característica forte no trabalho do diretor norte-americano Samuel Fuller era o fato dele conseguir deixar evidente a sua marca autoral em produções bancadas por grandes estúdios. Ou seja, dentro de uma estrutura narrativa tipicamente convencional ele inseria elementos formais e temáticos ousados e criativos. “Dragões da violência” (1957) é um filme bem emblemático dessa tendência do cineasta. Na superfície, é um faroeste tradicional em boa parte dos seus detalhes: divisão entre homens da lei e bandidos, duelos e tiroteios, cidadezinha poeirenta, temas musicais de tons épicos. São nas nuances, entretanto, que Fuller se diferencia. Na trama que se constrói, aos poucos se começa a perceber que os limites entre o bem e o mal ficam cada vez mais tênues, fazendo com que aquele maniqueísmo tradicional do gênero fique nebuloso. Na realidade, a obra amplia o alcance de sua visão moral, no sentido de abordar a corrupção inerente a uma sociedade que ainda está se formatando. Dentro de tal concepção, Fuller vai ainda mais além, fazendo com que “Dragões da violência” tenha um tom crepuscular, antecipando até alguns conceitos nos quais Sam Peckinpah e Sergio Leone se aprofundaram nos anos seguintes. No filme de Fuller, capta-se de forma sutil justamente o começo da transição do momento de um oeste marcado pela lei do mais forte para um novo tempo em que o Estado de Direito se torna efetivamente o elemento de consolidação de uma civilização. Para marcar esse subtexto mais sofisticado, Fuller concebe uma estética vigorosa, baseada tanto numa encenação repleta de achados visuais extraordinários quanto na montagem que combina com precisão classicismo e cortes frenéticos.

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