Uma característica forte no trabalho do diretor
norte-americano Samuel Fuller era o fato dele conseguir deixar evidente a sua
marca autoral em produções bancadas por grandes estúdios. Ou seja, dentro de
uma estrutura narrativa tipicamente convencional ele inseria elementos formais
e temáticos ousados e criativos. “Dragões da violência” (1957) é um filme bem
emblemático dessa tendência do cineasta. Na superfície, é um faroeste
tradicional em boa parte dos seus detalhes: divisão entre homens da lei e
bandidos, duelos e tiroteios, cidadezinha poeirenta, temas musicais de tons épicos.
São nas nuances, entretanto, que Fuller se diferencia. Na trama que se constrói,
aos poucos se começa a perceber que os limites entre o bem e o mal ficam cada
vez mais tênues, fazendo com que aquele maniqueísmo tradicional do gênero fique
nebuloso. Na realidade, a obra amplia o alcance de sua visão moral, no sentido
de abordar a corrupção inerente a uma sociedade que ainda está se formatando. Dentro
de tal concepção, Fuller vai ainda mais além, fazendo com que “Dragões da violência”
tenha um tom crepuscular, antecipando até alguns conceitos nos quais Sam Peckinpah
e Sergio Leone se aprofundaram nos anos seguintes. No filme de Fuller, capta-se
de forma sutil justamente o começo da transição do momento de um oeste marcado
pela lei do mais forte para um novo tempo em que o Estado de Direito se torna
efetivamente o elemento de consolidação de uma civilização. Para marcar esse
subtexto mais sofisticado, Fuller concebe uma estética vigorosa, baseada tanto
numa encenação repleta de achados visuais extraordinários quanto na montagem
que combina com precisão classicismo e cortes frenéticos.
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