quarta-feira, maio 13, 2015

Honeydripper - Do blues ao rock, de John Sayles ***


O título complementar em português que colocaram em “Honeydripper – Do blues ao rock” (2007) é pouco sutil, mas também é bem esclarecedor das intenções do diretor John Sayles. Em meio a uma trama situada no interior do sul do Estados Unidos na década de 50 envolvendo episódios de exploração e racismo, o filme mostra de forma simbólica e emblemática o momento em que o blues começou a se formatar em um novo estilo que desembocaria no rock and roll. Ainda que o roteiro tenha mais um fio de história que serve de pretexto para a parte musical da obra, Sayles conduz a sua narrativa de forma eficiente, sabendo construir uma atmosfera envolvente dentro de microverso de situações e personagens que refletem o conturbado momento histórico norte-americano da época. Apesar do tom de crítica social da obra, não há um aprofundamento existencial sobre os fatos. Para Sayles, interessa mais saber como esse contexto ajudou a fomentar um gênero musical marcado pelo inconformismo e selvageria. E nesse sentido, “Honeydripper” tem seus momentos mais memoráveis quando a música se torna a principal personagem, variando de uma ambientação que beira o solene e o misterioso quando o blues é o protagonista até uma atmosfera de fúria e devassidão quando o rock primitivo se configura em cena. Apesar da encenação de Sayles pender para o naturalismo, o verdadeiro encanto da produção está na caracterização mítica e mesmo amorosa de uma época em que a música refletiu os dilemas e o imaginário de boa parte de uma nação.

Nenhum comentário: