O título complementar em português que colocaram em “Honeydripper
– Do blues ao rock” (2007) é pouco sutil, mas também é bem esclarecedor das
intenções do diretor John Sayles. Em meio a uma trama situada no interior do
sul do Estados Unidos na década de 50 envolvendo episódios de exploração e
racismo, o filme mostra de forma simbólica e emblemática o momento em que o
blues começou a se formatar em um novo estilo que desembocaria no rock and
roll. Ainda que o roteiro tenha mais um fio de história que serve de pretexto
para a parte musical da obra, Sayles conduz a sua narrativa de forma eficiente,
sabendo construir uma atmosfera envolvente dentro de microverso de situações e
personagens que refletem o conturbado momento histórico norte-americano da época.
Apesar do tom de crítica social da obra, não há um aprofundamento existencial
sobre os fatos. Para Sayles, interessa mais saber como esse contexto ajudou a
fomentar um gênero musical marcado pelo inconformismo e selvageria. E nesse
sentido, “Honeydripper” tem seus momentos mais memoráveis quando a música se
torna a principal personagem, variando de uma ambientação que beira o solene e
o misterioso quando o blues é o protagonista até uma atmosfera de fúria e
devassidão quando o rock primitivo se configura em cena. Apesar da encenação de
Sayles pender para o naturalismo, o verdadeiro encanto da produção está na
caracterização mítica e mesmo amorosa de uma época em que a música refletiu os
dilemas e o imaginário de boa parte de uma nação.
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