A premissa básica da trama da produção argentina “O olhar
invisível” (2010) é simples, mas interessante em seus elementos: dentro de um
microcosmo ambientado em uma escola de classe média alta, no início da década
de 80, o roteiro procura fazer uma análise social e existencial sobre o clima
de repressão moral e política característica da ditadura no país naquela época.
Tal concepção de narrativa não chega a ser propriamente uma novidade – é só
lembrar o arrasador “Cria cuervos” (1976), obra-prima em que o diretor Carlos
Saura fazia um agudo retrato do ocaso da ditadura franquista pela visão metafórica
de uma família se desintegrando. Mas fazer essa referência a essa produção
espanhola chega a ser covardia, pois o cineasta Diego Lerman está muito
distante de ter a classe e sensibilidade de Saura. O trabalho do diretor
argentino até simula alguma elegância formal nos seus grandes planos e na edição
de poucos cortes, com a encenação de Lerman valorizando silêncios e pequenos
gestos de seus personagens. Essa sutileza estética, entretanto, é ilusória.
Tudo que acontece em cena se desenvolve de forma mecânica e sem inspiração,
pois Lerman parece confundir sobriedade narrativa com um estilo monótono de
filmar e editar seu material dramático. Falta uma efetiva atmosfera de tensão e
mesmo um senso imagético mais apurado para que o filme consiga alguma transcendência
artística. Nesse contexto, aquela que era para ser a seqüência clímax de “O
olhar invisível”, o momento em que a professora protagonista é estuprada por
seu diretor, acaba ganhando apenas uma dimensão grosseira que beira o cômico. O
dilema cinematográfico que determina que a obra de Lerman seja tão irrelevante
se concentra num princípio básico: no gênero do cinema político, não basta que
o assunto seja sobre política – a própria forma tem de ser política no sentido
de ser contundente e incômoda para o espectador. Do jeito que ficou, “O olhar
invisível” está mais para um melodrama convencional que por acaso se passa num
período político conturbado.
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