quinta-feira, maio 07, 2015

O olhar invisível, de Diego Lerman **


A premissa básica da trama da produção argentina “O olhar invisível” (2010) é simples, mas interessante em seus elementos: dentro de um microcosmo ambientado em uma escola de classe média alta, no início da década de 80, o roteiro procura fazer uma análise social e existencial sobre o clima de repressão moral e política característica da ditadura no país naquela época. Tal concepção de narrativa não chega a ser propriamente uma novidade – é só lembrar o arrasador “Cria cuervos” (1976), obra-prima em que o diretor Carlos Saura fazia um agudo retrato do ocaso da ditadura franquista pela visão metafórica de uma família se desintegrando. Mas fazer essa referência a essa produção espanhola chega a ser covardia, pois o cineasta Diego Lerman está muito distante de ter a classe e sensibilidade de Saura. O trabalho do diretor argentino até simula alguma elegância formal nos seus grandes planos e na edição de poucos cortes, com a encenação de Lerman valorizando silêncios e pequenos gestos de seus personagens. Essa sutileza estética, entretanto, é ilusória. Tudo que acontece em cena se desenvolve de forma mecânica e sem inspiração, pois Lerman parece confundir sobriedade narrativa com um estilo monótono de filmar e editar seu material dramático. Falta uma efetiva atmosfera de tensão e mesmo um senso imagético mais apurado para que o filme consiga alguma transcendência artística. Nesse contexto, aquela que era para ser a seqüência clímax de “O olhar invisível”, o momento em que a professora protagonista é estuprada por seu diretor, acaba ganhando apenas uma dimensão grosseira que beira o cômico. O dilema cinematográfico que determina que a obra de Lerman seja tão irrelevante se concentra num princípio básico: no gênero do cinema político, não basta que o assunto seja sobre política – a própria forma tem de ser política no sentido de ser contundente e incômoda para o espectador. Do jeito que ficou, “O olhar invisível” está mais para um melodrama convencional que por acaso se passa num período político conturbado.

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